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ARTE

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

NOS TEU 98 ANOS



Olhei-os como sempre os olhei Vendo-os como são e como serei

O lar onde não deverias estar
Olhos de água pura a cintilar

O forte odor a morte abarca o ar leve e a respiração translúcida das paredes cabisbaixas

Há mesas soturnas banhadas de idosos a reter as memórias do passado e os acenos amplos dos espíritos mortiços que descobriram o sorriso descampado dos aposentos velados

Todos sabem que vão morrer
Ou quase todos
E que tu também partirás
Mas
Sorriem-te nos teus 98 anos
E tu sorris
E vives
Na paz da canção
Dos beijos
Dos votos
De longa vida
De um dia a dia feliz

És a mais velha de todos os que aguardam pacientemente a derradeira jornada
Eu o mais novo
Canto e beijo-te
Peço-te em silêncio que vivas
Assim
Sorridente
Coração inocente de criança a extinguir-se placidamente
Dá-me mais dois dos teus anos
Depois pedir-te-ei outros dois
E outros tantos
Não partas Fica comigo

Sonhemos ambos com os vinhedos a florescer
Com a brisa nos pinheirais a reverdecer
Com o lagar vivo no Outono
Vinho a ferver na alma
E com as framboesas
Que crescem no pátio
Sombreadas pelas laranjeiras

Sonhemos ambos
Nós e mais ninguém
Juntos e em segredo
Neste teu dia de anos
Que nunca irás morrer
Ou que se a morte te chamar
Ao temível e doce degredo
Me chame a mim também


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