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ARTE

domingo, 8 de agosto de 2010

A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA VIII






Independentemente do que ficou explanado supra – VII -, enunciaremos agora, ainda que sinteticamente, os principais argumentos a favor da existência de Deus aduzidos por alguns filósofos representativos do pensamento ocidental.


Aristóteles tem como principal argumento o da PRIMEIRA CAUSA.
O que produz o movimento tem de estar imóvel e tem de ser eterno. Deus é o motor imóvel, que ordena o mundo no sentido da perfeição, fazendo mover o primeiro céu - como veremos, este argumento prende-se com a hierarquia da perfeição.
Também S. Tomás, que estabelece cinco provas da existência de Deus – cosmológica, causal, das coisas possíveis e das necessárias, dos graus, do ordenamento das coisas -, afirma que o movimento é uma realidade; para que este movimento exista é necessário que algo tenha produzido a sua existência, e assim sucessivamente, até que se atinja um primeiro movimento. Se tudo o que se move é movido por outrem, não podemos continuar até ao infinito na busca do primeiro movimento, não havendo assim um primeiro motor, que não é movido seja por quem for. O primeiro motor terá de ser Deus. Também na PROVA CAUSAL (v.g. Hobbes), cada coisa tem uma causa. Remontando de causa em causa, acabaremos por encontrar uma causa que seja a original. Em sede de causas eficientes não podemos continuar até ao infinito, já que desse modo inexistiria uma primeira causa. Não existindo uma primeira causa, não existirão causas intermédias e finais, pelo que S. Tomás é levado a crer que existe uma causa primeira e que essa causa é Deus.
Por outro lado, este argumento prende-se com a hierarquia ou GRAU DE PERFEIÇÃO, já que existe um grau evidente de perfeição nas coisas. Ora, a absolutamente perfeita só poderá ser Deus, donde todas as outras derivam. Interessante é a adaptação que Aristóteles realizou do mito da caverna de Platão, donde retirava uma prova inequívoca da existência da divindade. Caso tivessem existido homens a viver em casas sumptuosas, rodeadas por tudo o que de mais belo o homem possa conceber, mas no subsolo, sem que alguma vez tivessem contemplado o mundo natural e apenas tivessem uma ideia ainda que ténue de Deus, seriam imediatamente convencidos da sua existência, se pudessem contemplar, ainda que por breves minutos, a natureza e a sua perfeição – julgo que esta interpretação poderia ter alguma validade, se esses seres “subterrâneos” emergissem numa floresta tropical, no seio de uma tribo numa ilha do Pacífico, no Alasca, mas não, nos subúrbios de Bombaim, S. Paulo, Luanda, Maputo, num qualquer cenário de guerra ou num hospital do terceiro mundo.
Acresce a PROVA ONTOLÓGICA (S. Anselmo). Se Deus é o que de maior pode ser pensado, e se como tal esse objecto do pensamento não tem existência, outro como ele e que exista será maior. Assim o maior dos objectos do pensamento terá de existir, sob pena de ser possível a existência de um maior, ao que Deus existe.
Também Leibniz expõe vários argumentos, entre os quais o ONTOLÓGICO, o COSMOLÓGICO e o DAS VERDADES ETERNAS. Pelo primeiro entende que podemos conceber um Ser maximamente perfeito, donde se segue que existe, porque a existência está entre o número das perfeições. O segundo, argumento da causa primeira, atesta que se toda a coisa finita tem uma causa, não poderá manter-se uma sucessão infinita de causas, havendo assim, uma causa sem causa, que é Deus, ou seja, como tudo tem de ter uma razão suficiente, a do Universo será Deus. O terceiro refere que as proposições que respeitam à essência e não à existência, ou são sempre verdadeiras ou nunca o são, pelo que as que são sempre verdadeiras, são verdades eternas.


Verificamos ainda, a existência da PROVA DAS COISAS POSSÍVEIS E DAS NECESSÁRIAS, da PROVA DO ORDENAMENTO DAS COISAS (S. Tomás) e do argumento relativo À REPARAÇÃO DA INJUSTIÇA.
No que toca à primeira prova, constatamos que neste mundo as coisas são mudáveis e dependem de outras na sua existência. As coisas possíveis existem como consequência das coisas necessárias. As necessárias têm a causa dessa necessidade em si mesmas ou em qualquer outra. Estas últimas, remetendo para outra, e assim sucessivamente, poderiam levar-nos até ao infinito, o que repugna à razão, pelo que, necessitamos de encontrar algo nessa cadeia, que seja necessário por si e esse Ser necessário por si, é Deus.
Relativamente à segunda, constatamos a existência de uma ordem no Universo, ordem essa que deve depender de uma Inteligência Suprema, em virtude das coisas privadas de inteligência terem uma finalidade, uma ordem, pressupondo um Ser inteligente que as governa e, que só pode ser Deus.
No que ao terceiro argumento respeita, considera-se necessária a existência de Deus para que a justiça seja reposta num mundo injusto



Sem que nos alonguemos na análise dos argumentos expostos, arriscando-nos a entediar os leitores, dir-se-á, que, em regra, em todos aqueles que se estribam na impossibilidade lógica de ascendermos ao infinito, em sucessivas indagações, transportando-nos quase que de modo automático à existência de Deus, poderemos questionar-nos:
Se Deus é o primeiro movimento, porque este tem de ser produzido por alguém e não podemos logicamente remontar ao infinito; se Deus é a primeira causa, já que cada coisa tem uma causa e não podemos remontar ao infinito, sendo ainda uma causa necessária; se Deus é o que de mais perfeito existe, porquanto existindo um grau de perfeição nas coisas só ele o pode ser; se Deus é o que de maior pode ser pensado, tem de existir, sob pena de ser possível verificar a existência de um maior, então, se tudo o que existe tem por origem o movimento, se em todas as coisas há um grau de perfeição, se todas as coisas têm uma determinada grandeza, se tudo tem uma causa, não a deverá Deus também possuir? E esta causa, não lhe será qualitativa e hierarquicamente superior?
Ou seja, coloca-se aqui uma questão fundamental: Quem criou Deus?
Anote-se que não conseguimos discernir nenhum argumento válido para que o mundo tenha surgido sem qualquer causa – fruto do acaso.

No domínio das VERDADES ETERNAS, nada nos garante que existam, e se existirem, estarão ao alcance do ser humano e do seu conhecimento limitado pelo espaço-tempo? – Infra vimos que não.
Já a PROVA DO ORDENAMENTO DAS COISAS merece reparo consequente e substancialmente idêntico ao argumento QUANTO À REPARAÇÃO DA INJUSTIÇA. Não será necessário sustentar que haja uma absoluta necessidade de alguém ordenar o Universo, mais ainda, quando essa ordenação poderia ser bem mais perfeita do que aquilo que é. Por outro lado, perante tal ordenamento universal, a injustiça no mundo é facto indesmentível, como também a sua existência é um argumento que joga mais contra a divindade do que a seu favor. Não é crível que um Ser todo-poderoso crie um mundo repleto de imperfeições e injustiças, para depois as corrigir em “julgamento final” num qualquer Inferno ou Paraíso. Seria munir de engenhos incendiários um piromaníaco, para depois o condenar, invocando a culpa na formação da personalidade.


(continua)


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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