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ARTE

domingo, 30 de agosto de 2009

PABLO NERUDA - POSSO ESCREVER OS VERSOS MAIS TRISTES ESTA NOITE

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Posso escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e os astros, azuis, tiritam na distância.”

Gira o vento da noite pelo céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Tanto a amei, e às vezes ela também me amou.

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes debaixo do céu infinito.

Ela me amou, e às vezes eu também a queria.
Ah, como não amar seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E cai o verso na alma como na relva o orvalho.

Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Bem longe alguém canta. Lá longe.
Minha alma não se conforma com havê-la perdido.

Como para trazê-la meu olhar a procura.
Meu coração a busca, e ela não está comigo.

A mesma noite faz branquear as mesmas árvores.
Mas nós, os de outrora, já não somos os mesmos.

Já não a quero, é certo, porém quanto a amei.
Minha voz ia no vento para roçar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo. Mas talvez ainda a queira.
Como é tão breve o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
Minha alma não se conforma com havê-la perdido.

Ainda que seja esta a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo.

(Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada)

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